O Presidente da Igreja Adventista do Sétimo Dia em Portugal, Pastor António Amorim, representou a Igreja num encontro de S. E. o Presidente da República, Prof. Marcelo Rebelo de Sousa, com os líderes de algumas comunidades religiosas radicadas no País, que teve lugar no dia 9 de março, na Camara Municipal do Porto.
A abertura da cerimónia foi realizada pelo Presidente da Câmara Municipal do Porto, Dr. Rui Moreira, e, para além da Igreja Adventista do Sétimo Dia, estiveram representadas dezassete comunidades, entre as quais Aliança Evangélica, Budista, Católica Romana, Católica Ortodoxa, Fé Baha’i, Hindú, Judaica, Lusitana e Muçulmana. Segundo o Protocolo de Estado que orientou a reunião, a designação de “Cerimónia Ecuménica” refere-se a todo o ato solene em que participa o Presidente da República juntamente com representantes de diferentes confissões religiosas. Assim, não sendo uma celebração religiosa, foi um encontro que reconhece e valoriza a integração das diversas comunidades religiosas na vida da sociedade portuguesa.
Nesta cerimónia, inserida no programa que assinalou a tomada de posse e o início do segundo mandato, o Presidente da República saudou a presença dos líderes religiosos “na cidade da liberdade”. Nas suas palavras, demonstrou “gratidão a todos quantos dão vida a uma liberdade fundamental da nossa constituição: a liberdade religiosa”, afirmando que “é no pluralismo que caracteriza uma sociedade livre, aberta e democrática que é consagrada e floresce a liberdade religiosa, que são consagradas e crescem todas as liberdades, todos os direitos fundamentais.” Agradeceu ainda às confissões “o muitíssimo que Portugal vos deve, na educação, na saúde, na solidariedade social, na resistência às crises, no combate à pandemia”, realçando que, "neste ano doloroso e infatigável, o combate sem tréguas à pandemia seria outro sem o vosso contributo em domínios sensíveis da vida nacional, ajudando os excluídos e os mais pobres, os que mais têm penado ao longo deste ano.” De seguida, o Presidente da República apelou às confissões para que “em salutar diálogo e convergência de propósito, tudo façamos para defender a liberdade, a tolerância, a compreensão mútua, num tempo em que é tão sedutor dividir e catalogar, encontrar bodes expiatórios, acusar sem fundamento, marginalizar sem humanidade.” E, de seguida, que “Portugal pede-vos um outro contributo, por palavras e por obras, para a pacificação dos espíritos, a aceitação do diferente, a aceitação do diverso, a aceitação do estranho.” Apelou ainda a uma compreensão sobre o amor, definindo que, “para os crentes, a Lei de Amor será diversa e vista de forma diferente por cada um. Para os não crentes, é o respeito pelo princípio constitucional da dignidade humana.”
Discursou ainda D. José Ornelas, Bispo de Setúbal e Presidente da Conferência Episcopal Portuguesa, que felicitou o Presidente da República pelo desejo de reunir com as confissões religiosas, assinalando “o gesto de leitura atenta da constituição e pela visão humanista e aberta da sociedade e do mundo”. E, referindo a não confessionalidade do Estado e a sua abertura às diversas formas religiosas, salientou que tal se faz “sem sincretismo e com o contributo específico de cada um, no respeito por quem cada um é” e “no silêncio do coração e na tradição de cada um”.
Durante o encontro foi ainda lido o seguinte texto, preparado pela Presidência da República: “Dai-nos sabedoria para distinguir o bem do mal; compreensão para acabar com os conflitos; compaixão para apagar o ódio; perdão para superar a vingança; amor para compreender e amar o outro. Faz com que todos os povos vivam de acordo com a Tua Lei de Amor.”
A participação da Igreja Adventista a convite da Presidência da República é um reconhecimento do seu empenho na defesa e promoção do princípio da liberdade religiosa, baseado no direito a ter ou a não ter, praticar ou não praticar, mudar, abandonar e partilhar a crença. Por outro lado, é uma consequência da sua prática de diálogo inter-religioso, baseada no respeito pela diferença e pela expressão pública da fé, valorizando o contributo para aspetos da vivência comum, como a própria liberdade religiosa, a paz, a solidariedade e os valores de cidadania.
A Igreja Adventista, ao nível mundial, tem uma longa e frutífera tradição de empenho na liberdade religiosa, de relacionamento com as autoridades e de diálogo com as outras comunidades. Desde 1893, com a criação da Associação Norte-Americana da Liberdade Religiosa, a Igreja compreendeu que a liberdade religiosa e os assuntos públicos são muito relevantes na sua missão e no seu contributo para a sociedade. O mesmo acontece em Portugal, com a ação da Igreja e com a Associação Internacional para a Defesa da Liberdade Religiosa (AIDLR), criada oficialmente em 1978 como secção nacional.
O convite do Senhor Presidente da República, para além de sinalizar a sua atenção para com a liberdade religiosa e as comunidades religiosas, também demonstra a abertura da Lei em Portugal em relação às comunidades, o respeito social pelo fenómeno religioso e o reconhecimento do contributo das comunidades para a vivência em comum.
Para a Igreja Adventista do Sétimo Dia, e após receber a visita do Senhor Presidente há três anos, a aceitação deste convite é também um sinal do nosso compromisso para com os nossos próprios valores, os de, como Igreja, testemunhar da fé que nos é própria e transmitir a solidariedade e a esperança com todos com quem partilhamos o espaço de liberdade que deve ser o da sociedade.
Dep. Comunicação UPASD | Departamento de Liberdade Religiosa e Assuntos Públicos